
E aí temos a inclusão digital e o Orkut. Especulo que o famoso site de relacionamentos do Google deu a este indivíduo não representado e não existente a possibilidade de SER. No Orkut eu tenho uma imagem, construída por mim e compartilhada; eu ganho essa voz que nunca tive, eu marco posição, democraticamente, em meio a pessoas de todas as classes sociais. Meu perfil documenta minha existência, e a ideia é sim inundá-lo com tudo o que tenho e sou, sem qualquer preocupação com um conceito para mim tão abstrato quanto "privacidade". Minha maneira de ser torna-se então um tapa na cara de uma classe que sempre tentou se ver desvinculada de mim.
O engraçado é que, para essa classe média que não é povo, a imagem tem a mesma função definidora que tem para o pobre; e ela abre mão da tal privacidade com a mesma velocidade, só que no Twitter. Desta vez, o indivíduo não está buscando uma representação ou uma existência, mas um eu idealizado. A realidade postada ali em 140 caracteres costuma ser muito mais interessante que a vivida pelo sujeito. No Twitter somos todos descolados, inteligentes e blasés.
A pessoa que reclama da "orkutização do Twitter" quer que os supostamente VIPs e o povão continuem sendo entidades separadas. Ela quer continuar acreditando nesta imagem fabricada de alguém que é, pelo menos em alguns aspectos, superior, sem que pessoas "sem noção" venham lembrá-la do contrário.
Pois eu digo para este indivíduo que as tais redes sociais de que todos falam só serão realmente verdadeiras quando forem invadidas pelo povão. Só aí o "social" do nome fará algum sentido.