domingo, 8 de abril de 2007

Ronco... Rancor

Ronco.

Dona Paulina tivera treze filhos. Atualmente tinha apenas a companhia do marido: Sr Demerval. Os filhos, cada qual encontrara seu destino. Ela não via nada de especial nesta nova situação e nem em nenhuma outra. Como nunca vivera outra em toda sua vida, dizia sempre que todos os dias eram iguais, sendo Dia das Mães, Finados ou Natal e que nunca fora realmente feliz. Tinha apenas um orgulho: casara, não ficara “solteirona”.

Sr Demerval era um homem comum, marido regular e bom pai, aposentado do Serviço Público. Há anos, só fazia beber. Eram dois porres diários: um antes do almoço e outro a noite, com uma sesta após o almoço. Sempre bebera, mas após a aposentadoria o vício intensificara, se não estava bebendo diante da TV, estava no bar ou dormindo totalmente ébrio.

Odilon: bandido, drogado, amoral; de cabeça vazia e uma arma na cintura e morador do mesmo bairro perigoso que o casal se viu obrigado a morar por falta de condições financeiras melhor.

Naquela segunda-feira Odilon estava pior do que nunca. Após um fim de semana com muito álcool e drogas, amargava uma abstinência, correra o dia inteiro atrás de dinheiro, sem sucesso.

Ao passar defronte a casa dos velhos, ouviu um barulho que lhe irritou muito: era o ronco do Sr Demerval, tão alto que dava para ouvir na rua e dava a impressão que estremecia a casa.

Odilon ficou tão enlouquecido que decidiu invadi a residência do Sr Demerval. Pulou o muro da frente, derrubou a porta da sala aos pontapés e encontrou Dona Paulina de olhos regalados de terror. Odilon pediu-lhe silêncio com o dedo em riste diante da boca e caminhou para o quarto onde dormia Sr. Demerval, de boca e roncando com um porco.

O facínora não teve dúvida colocou um travesseiro no rosto do Sr Demerval, para abafar o som, e deferiu um tiro. Foi um som abafado e depois um silêncio sepulcral.

Odilon deixou a casa com se nada tivesse acontecido. Dona Paulina teve a reação de desespero esperada, mas com o tempo foi se acalmando, aquele silêncio era tão bom, sem aquele ronco pavoroso, que decidiu não chamar a Polícia imediatamente.

Deitou-se ao lado do marido morto e silencioso finalmente e dormiu como um anjo, como há cinqüenta anos não dormia e como era bom. Dormiu tão profundamente que babou no travesseiro.

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