
Mas na história que Bimba contava desta vez o Coronel mais parecia um palhaço, divergindo com o que todos sabiam a respeito dele: era um Senhor violento com escravos, tirano com a família, principalmente com a mulher, todos comentavam que ele a tratava aos pontapés, a prendia dentro de casa e até batia nela, no entanto o que o povo gostava mais comentar era seus engraçamentos com as escravas de sua fazenda.
A história tinha vários capítulos, que Bimba contava com um pequeno intervalo para um gole de cachaça, o primeiro principiava com o que vira quando cortara caminho pelo cafezal da fazenda:
- Verdade, o Coronel estava com o maior assanhamento com uma “neguinha” no cafezal e ela parecia gostar, os dois riam muito e corriam de lado para outro.
O outro capítulo foi apreciado por ele quando fizera um serviço de pedreiro na fazenda, assim dizia ele, mas ninguém acreditava que ele realmente era pedreiro, pois nunca o vira fazendo serviço algum:
- Eu achei muito estranho, pensei que o Coronel estava louco. Ele estava correndo atrás de uma cabrita.
“Seu João”, neste momento, já muito interessado na história, indagou:
- Cabrita? Animal?
Bimba respondeu, depois de mais um gole de pinga e repelindo saliva para todos os lados:
- Claro! Cabrita, animal!
- Você achou isso esdrúxulo, espera para ouvir o que vi na última vez que estive lá na fazenda.
- O que? Conta homem!
Disse uns dos fregueses do bar, já estavam todos curiosos para ver aonde aquela história ia dá. Bimba tinha o dom de contar histórias, além de cantar um pouco e recitar poemas Cordel, tudo isso principalmente depois de umas pingas, fora isso não tinha outra habilidade qualquer, nascera com duas mãos esquerdas:
- A senhora, esposa do Coronel, e a escrava correndo atrás da cabrita, ambas com um facão e gritando: “Vem cá sua cabrita sem vergonha, vamos cortar sua cabeça fora!”
A platéia apesar de simples, sem instruções... Entenderam a história, mas não acreditaram muito, pois Bimba já estava meio ébrio, é como ele “vivia”, foi quando um freguês que ouvia a história na porta do bar disse:
- Falando do “diabo”, olha o Coronel lá!
O Coronel Nélio ia de cabeça baixa e muito triste, muito diferente do modo sobranceiro que lhe era peculiar.