domingo, 15 de abril de 2007

A Triste Sobrevida de Celestino

Taioba.O Fazendeiro Celestino se sentia um homem realizado e até feliz ao olhar para sua Fazenda de Café: era a maior da região e também a mais produtiva. Os pés de café e se perdiam de vista, muito bem cuidados com as mais modernas técnicas, pois ao contrário de outros fazendeiros da Região de Santana do Deserto, Celestino era um homem muito bem instruído, formado em Veterinária, profissão que nunca exercera, pois herdara muito jovem, logo após o término dos estudos, a fazenda.

Quando seu pai morreu passou a tomar conta da fazenda e da família. O que ele fazia muito bem. Ele sempre contava orgulhoso como havia optado em ser Veterinário:

- Quando eu era menino encontrei um passarinho machucado e com muita dó dele, levei-o para casa e fiquei vários dias cuidando dele, curei a asa e dei a alimentação no bico. E para minha felicidade e de minha mãe, que sugeriu que o soltasse, o pássaro, ele ficou curado com os meus cuidados. No dia da libertação do pássaro e o lancei ao ar e ele saiu voando todo arisco e voou para bem longe, mas antes de ir definitivamente fez a volta e passou por nós, estava minha mãe, meus irmãos e eu, num vôo arrasante e minha mãe romanticamente disse:

- Ele passou sobre nós para agradecer.

Apesar do lado sentimental de Celestino, ele tinha outro lado que era duro, impiedoso e até cruel, características da maioria dos fazendeiros da Região. Dizia sempre à mãe: “Alguém tem fazer.”, quando ela o repreendia por ser muito duro com os empregados da fazenda.

Os empregados tinham muito medo de Celestino. Raramente se digiram à ele para pedir ou reclamar de alguma “coisa”, que eram muitas. A maioria dos empregados, exceto os capatazes, administradores e suas famílias, viviam com muito pouco e em tabernas muitos humildes. As crianças, com poucas exceções, eram desnutridas e com a saúde deveras frágil.

A situação do filho de Nazaré não era diferente. Estava desnutrido e com doença que se agravava a cada dia, principalmente por sua fraqueza e magreza decorrente de uma alimentação inadequada e insuficiente.

Numa manhã Nazaré vendo que seu filho morreria se ela não fizesse algo. Após ter pedido ajuda as várias pessoas responsáveis pelos empregados e a fazenda, sem obter sucesso algum, decidiu então procurar o dono da fazenda.

Nazaré foi com muito medo, com todos os empregados da fazenda “morria” de medo do patrão, era com os empregados chamava Celestino. Mas ela tomou coragem, afinal era a vida de seu filho, e foi. Ao chegar à Casa Grande foi recebida com indiferença e até desprezo, “engoliu” todos os mau-tratados das pessoas da casa e decidiu que não sairia dali sem fazer aquilo foi fazer ali. Esperou muito tempo, mais de hora, até que apareceu Celestino, com seu ar de superior, que lhe era característico e foi logo falando quase aos berros:

- O que você quer? Você não deveria está no cafezal?

Nazaré que chegara cheia de coragem foi logo intimidada com o tom da voz do patrão, mas foi corajosa, enfrentou o medo e consegui falou de uma forma bem clara, sem gaguejar:

- Vim aqui pelo meu filho que está muito doente.

O patrão ouviu, mas se notava claramente, sem dá muita importância:

- O que seu filho?

- Está a “beira” da morte, está muito fraco, desnutrido.

- O que eu tenho a ver com isso. Não sou médico, já levou ele ao Doutor?

- Já sim e ele disse que o problema de meu filho é desnutrição, se ele não se alimentar bem morrerá em dias.

Celestino já sem paciência por a empregada está lhe atrasando para o café, respondeu rudemente:

- O que eu tenho a ver com isso mulher?

- Será que o Senhor poderia arrumar “algo” para meu filho comer. Alimento “forte” que dê “sustância”, pois em casa só tem fubá e o médico me falou que isso é muito fraco para levantar meu filho da cama.

O fazendeiro já nervoso com o pedido de sua empregada e também por está com uma vontade louca de tomar seu café. Respondeu quase colocando a mulher para fora:

- Mulher faz o seguinte: vai ao mato e pega umas Taiobas, que é bastante forte, e faz um mingau com o fubá que você tem em casa para seu filho. Mas não agora! Agora vai! Volte ao serviço!

Nazaré saiu da Casa Grande humilhada, desesperada, pois sentia que seu filho não duraria muito tempo. Naquele dia não foi ao cafezal, foi para casa para ficar com filho e dali não saiu até a morte dele.

Por não comparecer ao serviço neste tempo que lutava para salvar a vida de seu filho foi colocada para fora da fazenda com uma mão na frente e outra atrás. Com isso realizou seu sonho de ir viver na cidade e lá se transformou numa cozinheira de muito sucesso.

Celestino ficou muito doente do estômago, sua mãe dizia que era por ele comer demais. Ele gostava muito de comer, enquanto que todos usavam pratos, ele comia numa tigela, que sua mãe, brincando e às vezes quando estava magoada com ele, chamava de coxo.

A enfermidade o maltratou muito, tudo que ele comia vomitava, nada parava em seu estômago. Nos seus últimos anos de vida a única “coisa” que parava em seu estômago era mingau de fubá com Taioba.

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