As frases longas e bem elaboradas a que os leitores de José Saramago estão acostumados continuam lá, mas o ambiente é outro, justamente um que costuma pedir frases curtas, sem a necessidade de muita elaboração. Desde setembro de 2007, mantém um blog (O Caderno de Saramago), onde comenta temas relacionados a política, literatura, religião e sociedade ou simplesmente escreve relatos sobre suas viagens, muitas ao Brasil.
Os textos estão saindo da internet e ganhando o papel, numa coletânea de sete meses de posts lançada esta semana sob o título de “O caderno”. Em entrevista ao GLOBO (por e-mail, como é mais apropriado ao tema), Saramago explicou o que pensa sobre a rede, revelou que um dia deve se cansar do blog.
Seu livro “O caderno” é uma coletânea de textos de seu blog. Escritores mais velhos, porém, costumam manifestar certo descaso com a internet e os blogs. Como o senhor lida com a internet? O senhor lê outros blogs? Enxerga a internet como uma possibilidade de literatura ou apenas como fonte de informação?
Escrever num blog não difere em nada de escrever numa folha de papel. Salvo a extensão do texto em que, no caso do blog, se aconselha uma certa brevidade, os escritores não estão condicionados por normas ou regras que, supostamente, caracterizariam o blog. Não sou frequentador assíduo da internet. Consulto o Google com frequência, nada mais. Quanto a ler outros blogs, faço-a às vezes, mas não mantenho diálogo com eles. Para mim, a internet é uma fonte de informação rápida e em geral eficaz, porém não confundamos: a literatura ou é ou não é, não há meios termos. Muitas transformações teriam de dar-se (e eu não vejo como nem quais) para que a internet tomasse lugar no fazer literário.
O senhor acha que a experiência em escrever para um blog, onde teoricamente os textos são mais curtos e diretos, teve alguma influência na sua escrita?
Nenhuma. Continuo a utilizar frases longas, das que dão espaço e tempo para observações e análises quer considero necessárias. A tão louvada clareza das sínteses é, não raro, enganosa.
E como surgem os temas para o blog? A variedade é a regra? Qualquer pensamento que o senhor tenha pode motivar um post?
Não qualquer, evidentemente. Os temas surgem com naturalidade, embora uma vez ou outra haja que esforçar-se um pouco. A minha maior preocupação é não cair na monotonia nem na previsibilidade.
O senhor acompanha o fenômeno do Twitter? Acredita que a concisão de se expressar em 140 caracteres tem algum valor? Já pensou em abrir uma conta no site?
Nem sequer é para mim uma tentação de neófito. Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido.
O senhor considera a internet um espaço democrático e verdadeiramente livre?
Nada há que seja verdadeiramente livre nem suficientemente democrático. Não tenhamos ilusões, a internet não veio para salvar o mundo.
Mesmo após a publicação do livro, o senhor segue atualizando seu blog. O senhor tomou gosto pela coisa? Pretende seguir ocupando esse espaço indefinidamente? Podemos esperar um “O caderno II” para breve?
Haverá um “O caderno II” ainda este ano, mas não me vejo a escrever blogs indefinidamente. Tem sido uma boa experiência, chego a mais leitores com mais rapidez, mas tudo acaba por cansar.
Fonte: O Globo Online/Blogs
Seu livro “O caderno” é uma coletânea de textos de seu blog. Escritores mais velhos, porém, costumam manifestar certo descaso com a internet e os blogs. Como o senhor lida com a internet? O senhor lê outros blogs? Enxerga a internet como uma possibilidade de literatura ou apenas como fonte de informação?
Escrever num blog não difere em nada de escrever numa folha de papel. Salvo a extensão do texto em que, no caso do blog, se aconselha uma certa brevidade, os escritores não estão condicionados por normas ou regras que, supostamente, caracterizariam o blog. Não sou frequentador assíduo da internet. Consulto o Google com frequência, nada mais. Quanto a ler outros blogs, faço-a às vezes, mas não mantenho diálogo com eles. Para mim, a internet é uma fonte de informação rápida e em geral eficaz, porém não confundamos: a literatura ou é ou não é, não há meios termos. Muitas transformações teriam de dar-se (e eu não vejo como nem quais) para que a internet tomasse lugar no fazer literário.
O senhor acha que a experiência em escrever para um blog, onde teoricamente os textos são mais curtos e diretos, teve alguma influência na sua escrita?
Nenhuma. Continuo a utilizar frases longas, das que dão espaço e tempo para observações e análises quer considero necessárias. A tão louvada clareza das sínteses é, não raro, enganosa.
E como surgem os temas para o blog? A variedade é a regra? Qualquer pensamento que o senhor tenha pode motivar um post?
Não qualquer, evidentemente. Os temas surgem com naturalidade, embora uma vez ou outra haja que esforçar-se um pouco. A minha maior preocupação é não cair na monotonia nem na previsibilidade.
O senhor acompanha o fenômeno do Twitter? Acredita que a concisão de se expressar em 140 caracteres tem algum valor? Já pensou em abrir uma conta no site?
Nem sequer é para mim uma tentação de neófito. Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido.
O senhor considera a internet um espaço democrático e verdadeiramente livre?
Nada há que seja verdadeiramente livre nem suficientemente democrático. Não tenhamos ilusões, a internet não veio para salvar o mundo.
Mesmo após a publicação do livro, o senhor segue atualizando seu blog. O senhor tomou gosto pela coisa? Pretende seguir ocupando esse espaço indefinidamente? Podemos esperar um “O caderno II” para breve?
Haverá um “O caderno II” ainda este ano, mas não me vejo a escrever blogs indefinidamente. Tem sido uma boa experiência, chego a mais leitores com mais rapidez, mas tudo acaba por cansar.
Fonte: O Globo Online/Blogs
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