Vivemos tempos da aceitação passiva de todas as novidades tecnológicas, sem tempo para analisar tudo o que se passa.
Acho engraçado como divulgam frequentemente pesquisas científicas sobre os benefícios da internet para o desenvolvimento motor, da sociabilidade, da educação e da cultura das crianças e adolescentes. A gente sofre um bombardeio de informações ufanistas e exaltatórias que, em geral, aquele que quer ser ou parecer antenado adota de olhos fechados e sorriso beatífico estampado no rosto.
Uma vez que as novidades chegam embaladas em discursos competentes e argumentos embasados em pesquisas acadêmicas, a gente se rende. Mas a realidade do dia-a-dia é bem outra. A internet virou um estorvo para a maior parte das famílias.
E eu digo que a tecnologia está prejudicando o desenvolvimento dos adolescentes. Os pais presentam as crianças com computadores portáteis na esperança de que elas possam fazer seus trabalhos e troquem com os colegas.
Quanta ingenuidade! Os moleques "tweens" e "teens" usam o pretexto de fazer trabalho para bater papo no MSN, trocar fotos, baixar música e outros arquivos... ter, enfim, uma vida fora da esfera dos adultos.
O resultado está no rendimento medíocre no colégio, na indiferença pelo conhecimento, na falta de curiosidade, já que tudo está à disposição, ao alcance de um clique – e, por ser fácil, pode ser desprezado.
Os professores tentam parecer moderninhos e passam lições para serem feitas no Google. E o resultado é um intenso recortar e colar. Será que eles não notam a bobagem que fazem?
Os alunos do ensino médio, salvo exceções, não estão processando informações, não chegam nem a compreender em que consiste conhecer. Eles vivem um mundo à parte.
Os adolescentes sempre viveram assim, e nós quando tínhamos 15 anos queríamos evitar os mais velhos. É verdade. Mas neste tempo éramos dependentes dos pais, precisávamos deles, nem que fosse para pedir mesada. Tínhamos que falar com os mais velhos. Devíamos respeito e tínhamos medo.
A turminha século XXI jamais enfrentou esse problema. Os pais são mais preocupados e devotados. Nada falta aos menores. E eles ainda por cima se apossaram de um campo virtual que está fora e longe do controle dos pais.
Não estão amadurecendo porque não fazem questão de conversar com os adultos.
Como resultado, a internet está tornando a vida familiar um circo infernal em que o entretenimento virou a única opção. Quando acontece em estarem todos offline em casa no fim de semana, as conversas não passam de monólogos polifônicos.
Sim, me confesso impotente para sugerir uma solução. Talvez a grande desgraça seja que os pais de hoje deixaram de ser modelos.
Deve haver uma saída para tudo isso, mas ela só será encontrada quando esta geração de adolescentes do milênio terá crescido e virado objeto de estudo. A turma da próxima década poderá se beneficiar, espero.
Basta que as pessoas parem de se comportar ingenuamente diante do avanço tecnológico. Ao longo desta década que termina, a internet facilitou muitas coisas, mas conspurcou tantas outras. A cultura? Pobre coitada, pois ela se perdeu no meio de um download incompleto.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Submissão à tecnologia


Nosso raciocínio e nossa capacidade crítica foram atropelados pelas inovações. E estamos ali, estatelados, sem socorro, felizes pelo que recebemos. Como se a civilização avançada houvesse abdicado da razão.
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